Há muito tempo que eu não escrevo.
Desde que estou aqui que tento mais uma vez ser invisivel e ficar no meu canto.. Tendo um quarto só para mim, (nem quero imaginar porquê...) torna-se mais fácil permanecer nas sombras.
Desde que me lembro de me tentar conhecer que me lembro de ser controlada pela minha Avó. Lembro-me das ameaças constantes, de ter de voltar para casa logo a seguir à escola e de ter medo de me distrair na conversa com algum colega... Medo e máscaras..
Ás vezes imagino que alguém me atira à cara que sou estranha, difícil, que alguém descobre as cicatrizes no meu braço e vê nelas os meus motivos de rancores passados e adormecidos. Quando penso nisso choro sempre, sinto-me como uma miúdinha abandonada que chora pelos pais mas que a dada altura percebe que não vai ser salva. A minha vida dava uma tragicomédia. Chega a ser hilariante a forma como eu às vezes me encho de esperança vã, para ser de novo posta no meu lugar... O posto invísivel do saco de pancada favorito, a pessoa favorita a quem cuspir veneno ou insultar.
Disse ao meu Pai que ele tinha sido uma Pai ausente... Ele disse que tinha sido ausente para o meu irmão, não para mim. Acho que ele não percebe que viver na mesma casa que eu e pagar as contas não quer dizer que ele tenha sido uma figura paternal presente. Se calhar devia ter-se preocupado mais comigo e menos com o alcool e as depressões. Se calhar devia ter-se preocupado em educar-me ou em impedir que a minha auto-estima fosse destruída quando me diziam que eu não valia nada e que não merecia o que comia.
Toda a gente me diz que tenho de ter paciência porque a minha avó é velhinha... Mas a minha avó sempre foi velhinha, e eu sempre fui a miúda da família. A minha opinião nunca contou para nada e nunca ninguém quis saber o meu lado da história ou o porquê de eu me sentir inadequada e triste quando estou com a minha família.
Sinto-me sozinha quando estou com a minha família. Sinto-me como se toda a gente se amasse tanto que me excluíssem porque nunca tive direito a esse amor.
Sinto-me invisível, como se os visse através de uma janela e visse o quão felizes eles sempre foram sem mim. O quão felizes eles são quando eu estou longe.
O amor é uma merda.
A vida é uma merda.
Ás vezes gostava de conseguir abrir as minhas veias e deixar escorrer todo o pús que consome a minha alma.. E a seguir rebentava a bolha de fumo negro que me envolve e me engasga lentamente, todos os dias mais e mais.
E fugia, e voltava a começar a minha vida num sítio qualquer, livre de máculas e memórias de uma infância reprimida e cheia de controlo e depressões e fel de vidas anteriores.
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