sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mais uma volta, mais uma viagem..

Não sei o que fazer..
Nem sequer é algo que se note na minha cara..
É uma espécie de desespero calado que me deixa com cara de poucos amigos..

Bem, anti-social já eu sou de qualquer das formas..

Chego ao meu local de trabalho e Barbie interpela-me:
"E essas unhas?
Oh! Que cor tão gira!
As minhas são fraquinhas.
Vamos voar juntas hoje! ih ih ih"

Depois de um dos quatro voos que fiz hoje Barbie vem ter cá atrás ( à back galley para os entendidos) e diz:
" Ah, quando fizeste as tuas unhas? A cor é muito gira!"

No segundo voo Barbie pergunta-me:
"Hoje olhas para mim de maneira estranha porque X anda a dizer que dormi com o capitão Y ?

Respondo com uma indiferença mal contida:
Barbie, eu não quero saber de "gossips" e como se diz em português: "Não engravido pelas orelhas!"

Barbie olha para mim como se eu tivesse 2 cabeças e não compreende que a minha forma de olhar apenas se deve ao facto de ela apenas falar comigo para me gabar as unhas..
De facto, uma vez até tentara falar comigo sobre pilotos e quem dorme com quem na Javardair..
Mas eu fingi que não conhecia nenhuma das miúdas de quem me estava a falar..
 Deve também nessa altura ter percebido que a minha próxima resposta seria:
"Não quero saber.."

Olho para o lado, Barbie fala com o nosso colega em checo, eslovaco ou de onde raio sejam eles oriundos.
Ele diz algo, ela atira a cabeça para trás e dá uma gargalhada alta mas suave, naquele jeitinho especial que só uma mulher consegue dar com uma piada que um homem diga.


Faz-me pensar se estarei no trabalho certo.


Se fosse suposto a vida ser assim tão fútil... Porque não estamos extintos ainda?


OH CRAP!

Já começo com os meus devaneios pessimistas..
Será que dentro da minha cabeça há mesmo uma "romântica" do século XIX escondida algures?

Já me perdi nos meus pensamentos..

Tudo isto para dizer que não estou chateada com a Barbie, nem com as Barbies do mundo.


Estou chateada com o mundo, com o sistema, com os jogos que as mulheres fazem/têm de fazer, com o jogo de cintura, com o jogo de palavras, conversas, olhares, toques..
Com os homens que andam à caça, com as mulheres que se produzem para ser caçadas, com as que não se produzem e apontam dedos e atiram pedras!
 Com as minhas unhas vermelhas, com o meu bâton vermelho, com o sorriso que não sinto mas faço, com as multidões que me fazem sentir sozinha..
 Com os sentimentos que não sinto..
Com a felicidade que não encontro.

Com as palavras que escrevo e me soam como um desespero sussurrado, uma declamação do isolamento a que me obrigo porque não consigo ser uma barbie fútil, porque não quero ir a festas apenas para dormir com alguém.
 Porque não consigo compactuar com esta fantochada de amigos de ocasião só para sair à noite ou beber a meio da tarde.

Preciso de férias..
Da minha vida!

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