Um dia sem aviso prévio tudo mudou..
O Tio de Kali foi viver com esta, o seu Pai e os seus avós, começou a trabalhar no mesmo sítio que o Pai, a fazer o mesmo horário nocturno.
Mas, de certa forma e pelos curtos anos que o Tio ficou na vida de Kali, a viver com ela..
Ele foi tudo o que ela precisava, tudo o que ela sonhava..
E Kali por momentos sentiu-se bem vinda..
Quando chegava a casa e cumprimentava toda a gente o Pai perguntava como tinha sido o seu dia mas se Kali se alonga-se por mais de um adjectivo o Pai dizia que esta o aborrecia e enxotava-a...
Então todos os dias quando Kali chegava e cumprimentava o Pai, este perguntava-lhe como tinha sido o seu dia e ela respondia: "Bom."
Quando cumprimentava o seu Tio no entanto, este perguntava-lhe como tinha sido o seu dia...
E, Kali contava-lhe tudo o que até ai não tinha conseguido contar a ninguém..
O Tio aconselhava-a, avisava-a, brincava com ela e até a ajudava a fazer os tpc's...
Kali sentia-se feliz, não conseguia ainda tirar a máscara que usava de menina de bem que agrada a tudo e todos...
Mas ás vezes tentava..
Nem tudo foi um mar de rosas claro..
Tempos perigosos aproximavam-se e o Tio tentou avisar a menina, mas Kali usava a máscara há demasiado tempo... Tirá-la ser-lhe-ia tão penoso como arrancar a própria pele..
Um dia..
Descobre-se que o Tio tem cancro, em estado terminal!
A esta altura este vivia com a namorada, mas continuava a ser um dos pilares essenciais para Kali..
Em pouco tempo dá-se uma mudança drástica no físico do Tio, com a quimioterapia o cabelo cai, a falta de apetite também o torna numa espécie de esqueleto ambulante, não obstante continuava a ser a pessoa extraordinária que sempre havia sido.
Kali não se apercebeu como o tempo passou tão depressa, nem conseguiu mostrar ao Tio nesses últimos momentos como ele era importante para ela, em vez disso seguiu a sua vida de estudante..
Um dia o Tio teve de ser hospitalizado, os seus pulmões estavam a dar de si e passou a ser comum ele ir ao hospital, passar a noite e receber oxigenio.
Um outro dia..
De manhã recebem um telefonema, kali preparava-se para ir para a escola, o Pai atende e fala com alguém, desliga e agarra a filha.
" O Tio M. morreu!"
Kali não acredita, vai para as aulas e passa o dia num estado de torpor.
Chega a casa e está lá muita gente, a máscara de menina bonita está a postos!
Sorri, conversa e faz tudo o que uma jovem anfitriã deve fazer.
Passados alguns dias é o enterro, Kali vai ao pé do caixão e reconhece o Tio, começa a ficar com a vista toldada, aquele corpo de cabeça rapada, enfezado com os ossos á vista, aquele é o Tio, o Tio está morto, nada o trará de volta..
Lágrimas começam a correr e pensamentos correm-lhe pela cabeça..
Como tinha sido injusta na ultima discussão quando o Tio a tentara fazer ser ela própria, como a sua língua se tornara viperina e como respondia torto!
Quão malcriada se tornara e que audácia!
E nunca tinha dito ao Tio como ele era importante para ela, o quanto a fazia feliz ter alguém que se importa-se com ela..
As lágrimas corriam e alguém agarra na menina, um amigo da família, Kali balbucia coisas sem sentido, finalmente apercebe-se da morte do Tio, da doença terminal que sabia que o levaria e da mortalidade das pessoas que a rodeiam, a missa acabou e levam a menina dali, ela continua a chorar uma torrente de mágoas.
Vê-se de repente num cemitério e alguém lhe dá um urna, o Tio fora cremado.
Kali agarra-se à urna como se fosse a ultima hipótese de abraçar o Tio.
Obrigada Tio, por fazeres parte da minha vida.
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