terça-feira, 29 de novembro de 2011

A bolha

Eu gritava.
Os gritos transformaram-se em bolhas de raiva na minha boca que quase espumava..

Continuava a gritar de desvario e só ouvia os latidos do meu coração, cada vez mais rápido.
Perguntava porquê, porquê tudo isto e nada disto e tudo e nada e hojes e amanhãs e ontens e senãos..
As bolhas de angústia subiam para o céu límpido e mentiroso.
Até que um soluço fez uma das bolhas crescer, comecei a chorar e, a bolha cresceu cada vez mais.
Envolveu-me nela, e continuou a crescer, eu agora tinha medo, sabia que as outras bolhas se tinham ido mas estavam, no fundo, relacionadas com esta!
 Senti um aperto na garganta e uma secura na boca, sabia que não me ouvias, as palavras estavam todas ali, suspensas no ar, dentro da bolha, a pairarem à minha volta a picarem-me com os seus ferrões, comecei a sangrar um bocado e sabia que não havia escapatória possível  tinhas de me salvar, mas se rebentasses a bolha eu também desapareceria.
E a bolha crescia e eu desaparecia dentro dela, num fumo escuro que me turvava a vista.
Doía muito e eu chamava por ti, mas tu viravas as costas e eu continuava a desaparecer naquela bolha cheia de fumo.